Domingo de meio sol, quase fim do mês, primeiro decanato de um outro signo no zodíaco. Um antibiótico, um antinflmatório, algumas gotas de homeopatia, remédio contra hipertensão, Gingko Biloba por ser uma alternativa natural. Aqui estou eu, um homem com 27 anos recém completados, sentado à frente do computador de mesa que terminou de pagar o ano passado, sentado à uma cadeira de madeira crua e assento de almofada branca, em suas cuecas GAP adquiridas na última viagem aos Estados Unidos e vestindo uma camiseta bege, que comprou por um engano achando que seria bom ter uma peça de cor neutra no guarda-roupas.
Estou sozinho em casa, e isso me permite sentir inteiro, eu, meu. A sensação de vazio é inevitável, mas logo a percepção de estar inteiro, supre qualquer outra necessidade.
Acima do monitor de LCD, minha prateleira de DVDs, onde estão misturados filmes, séries, shows, documentários; e a barreira que eles formam serve de porta correspondências. À frente de alguns deles e pra ser mais preciso, entre o show do Rod Stewart e Um Lugar Chamado Notting Hill está o maço de Marlboro Lights que denuncia minha mais recente tentativa de largar o vício. Fiz questão de escrever na caixa: "Last One, Jan 23 2009".
Chega de fumar, chega de tentar parar. Dessa vez quero que funcione. Estou lutando contra uma gripe que me derrubou, uma crise de bronquite inesperada e um congestionamento de alma que precisa respirar.
Desde que ressucitei meu Blog venho querendo postar coisas todo o tempo, mas isso seria inviável, pois infelizmente nem o mais experiente taquígrafo consegue acompanhar a velocidade dos pensamentos. Por isso estou tentando organizar minha idéias, anotar quando sinto que vou perdê-las, e quem sabe conseguir traduzir aqui um pouco do tudo que passa por essa cabeça já coberta alguns fios grisalhos, que insistem em se destacar dos pretos por alguma razão.
No DVD player comprado recentemente, toca um cd dado por alguém que passou pela minha vida, uma paixão relâmpago, daquelas que nem dá tempo pra entender, e tudo é confuso, e mágico, e estranho, e que não continua, se separa, e ficam perguntas, procuram-se respostas e ninguém sabe como findar. As músicas escolhidas são compostas da mais profunda melancolia, misturada ao desespero e quem sabe ao verdadeiro sentimento de "por favor, me escuta, eu gosto de você". Não deu, foi mais forte do que eu, não era o momento, não era a estação mais favorável, não foram usadas as palavras corretas, o tempo das ações, a duração de cada encontro, o verdadeiro discurso do que vem de dentro.
Ainda recebo visitas freqüentes deste alguém, que me vem por e-mail, torpedo, presente de aniversário deixado na recepção às 2h da manhã, ou um cd que eu mesmo decido permitir que visite-me a mim. Que fique a lembrança da tentativa - não se pode culpar por tentar - e o presente das belas músicas que dentre as melancólicas são realmente lindas. Não que a melancolia não possa ter beleza, mas ela sofre porque quer, e sabe que não deve ser tanto.
Ser assim me lembra meus 15 ou 16 anos, época em que eu acreditava que encontraria alguém que fizesse meu coração parar por alguns segundos, alguém a quem eu daria flores todos os dias, e sentiria o cheiro e viveria de beijos, sorrisos, alegrias, sóis e luas e muito mais. Se de coração quebrado, meu ombro amigo era Jon Bon Jovi , que me cantava These Days e me fazia chorar, como se o mundo tivesse perto do fim e me tivessem tirado tudo aquilo que me era vital. Que engraçado isso. O tempo passa, mudam-se os referenciais. A gente aprende a ser mais duro, mais resistente. As dores da alma precisam ser maiores para ferir. Pelo menos é assim que me sinto, ou prefiro acreditar que sou, pra não sofrer por razões tolas e simples.
Alguns minutos de hesitação. Como continuar esse texto, sem deixá-lo extenso de mais, ou cansativo demais ou piegas demais?
Bom, seria engraçado se eu tivesse uma câmera que me acompanhasse o dia todo, e que captasse meus momentos de dentro pra fora e de fora pra dentro. Seria engraçado mostrar coisas banais do dia-a-dia, e que são as coisas que me fazem quem eu sou, e que são o 'preparo' da receita que chega a cada um que topa comigo por aí. Por exemplo, o pote do antibiótico é "anti-kids" pois tem um mecanismo que dificulta a abertura da tampa. Você tem que pressionar e girar para conseguir abrir, porém não é tão simples assim! Confesso que hoje tentei rodar pelo menos cinco vezes em vão, e só consegui abrir na sexta vez. Separei o comprimido a ser tomado, e olhei pra dentro do frasco, e percebi que toda vez que o abro, penso: "e se esse saquinho que mantém a temperatuda dos comprimidos cair na minha mão, e se alguém engole isso sem prestar atenção?"
Esse é o tipo de pergunta que deve ser feita apenas uma vez, porque a resposta é obvia, mas eu insisto por pensar nisso toda vez que abro o frasco. E também não consigo evitar de pensar que dentro do frasco não tem os 14 comprimidos que diz a caixa, e que serei surpreendido quando estiver chegando perto do sétimo dia de tratamento e ver que os comprimidos acabaram! Mas sei que o contrário é que vai acontecer, e vou previsivelmente pensar em silêncio: "e não é que foi a conta certinha?". Não me perguntem porque até agora não olhei cautelosamente para dentro do frasco e contei quantos comprimidos ainda têm lá. Não quero. É uma mistura de efeito surpresa com curiosidade e desafio, por mais que eu queira ter certeza de que ali sim existem os comprimidos para o tempo total de tratamento, quero me supreender com o fato de que realmente existem os 14 comprimidos que diz a caixa.
Estranho, mas isso é meu. E gosto de ser assim. Gosto de organizar meus frascos de comprimido por tamanho, e não pela ordem que tenho que tomá-los. Gosto de fechar todas as janelas que abrem automaticamente ao ligar o computador, e abrí-las de novo de acordo com a minha necessidade. Gosto de abraçar a almofada do sofá enquanto assisto TV, e só eu não me irrito com o fato de que o DVD fica de costas pra TV e preciso fazer um malabarismo simples para que o infravermelho chegue ao leitor.
Hoje é um dia pra ser meu. Tenho um relatório enorme para revisar, uma análise de projeto que deveria ter sido entregue na sexta-feira, coisas de casa e algumas outras simples atividades a fazer. Vou ouvir música o dia todo, e atender ao telefone se ele tocar. Quem sabe ao final de tudo, terei mais coisas para pensar e organizar para passar por aqui e tentar sintetizar?
Luz, câmera, ação! Meu dia já está no ar.
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ResponderExcluirSeu dia entrou no ar e assim começou a correria!!!! Pensamentos e palavras chegaram e foram na velocidade da luz, nada se pode fazer... assim, passaram-se os dias, semanas e meses!!!! Agora, 01 de maio, muito se passou e para relembrar tantos detalhes, só na base da hipnose... (rs).
ResponderExcluirMas eis que a dúvida surge: para onde foi a certeza de que esse blog seria um prazer além de obrigação, que seria atualizado sempre, e que passaria a fazer parte do dia-a-dia??? Acho que foi passear na floresta enquanto seu lobo não vem... junto com a matrícula da academia e promessa de não mais fumar...
Pinguim...gostei!!rs
ResponderExcluirTava passando e achei curioso um pinguim por aqui! Desculpe a invasão!
Meses já se passaram desde o último registro!! Será q o lobo mau apareceu!?!?rs
Boa sorte ai noseu dia-dia!